Fernando Rogério Senna Calderari (Lapa, PR, 1939) pintor, gravador, desenhista, escultor e professor.
Formou-se no Curso de Pintura da Escola de Música e Belas Artes do Paraná em 1962 e no Curso de Didática Especial em Desenho na Universidade Católica do Paraná em 1963. Estagiou no ateliê de gravura em metal do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (1965) com Bolsa da Secretaria de Estado da Educação e Cultura do Paraná quando frequentou o Curso de Gravura em Metal orientado por Edith Behring e Roberto Delamônica que considera o período responsável pela sua aquisição de conteúdo: “a parte cerebral muito ativa e a parte criativa flutuando”, diz ele.
Nascido no planalto, Calderari apaixonou-se pelo mar, fato este que levou um crítico de arte da cidade de Varna, na Bulgária, a afirmar que sua obra é bem estruturada, mas deixava entrever vestígios de uma paisagem marinha. Fernando Calderari tira partido da tensão existente entre a figuração e a abstração. Opta pela abstração nos anos 60, mas os objetos nunca se afastaram totalmente. Era qualquer coisa como um afastamento para uma posterior aproximação, trabalha na mesma direção dos “expressionistas” abstratos (não no mesmo resultado) na descoberta da pintura, o uso dos grandes formatos e a pesquisa da técnica especificamente pictural, é um “entrar na pintura” ou como ele mesmo diz, “o espectador é o verdadeiro protagonista da paisagem”. É o “saber olhar”, o sapere vedere (e osare) de Leonardo da Vinci.
Durante alguns anos optou pela abstração da forma, não mais a forma como uma imagem definida, mas dissimulada preconizando simplesmente os valores plásticos da pintura. Nesta exposição optou-se por mostrar este momento da sua abstração madura e que corresponde à série de talhas – essas “novas figurações em paisagens” – e que tiveram origem na sua atividade de gravador. Associando gravura e pintura, começa a talhar e pintar seus quadros realizados sobre madeira: “A própria madeira trabalhada viria a me satisfazer muito mais – visto que a tela fofa não oferecia a resistência do material que se experimenta na gravura. Esta descoberta foi muito importante para mim porque sinto necessidade de fazer força, sou um operário no quadro, na parte estrutural – sem aquele refinamento da tela. Isso poderá vir posteriormente com as cores.” (Fernando Calderari, 1971).
A partir dos anos 1980, retorna à pintura em tela insinuando marinhas e que procuravam a luminosidade de uma paisagem não convencional à primeira vista. Os valores translúcidos, tênues e diluídos das cores e das camadas de pintura se aproximam dos pigmentos dissolvidos no meio aquoso da aquarela e assim assistimos a volta da imagem marinha e em seguida, pouco a pouco, a imagem se torna mais definida, se afastando lentamente da abstração.
Das cores sólidas das talhas – azul, verde, cinza, vermelho – surge a explosão do branco da espuma, do azulado do céu e do esverdeado do mar. A correspondência entre a cor e a imagem: cores sólidas e puras da terra, da vegetação, do céu e as cores diáfanas das nuvens, da bruma, da espuma: as talhas e as aquarelas. “A analogia é a ciência das correspondências” disse Octávio Paz, e a cor, como experiência de vida, se estetiza em poesia na obra de Fernando Calderari.
Sempre procurou caracterizar a sua pintura graficamente, mas que não perdesse o seu caráter de pintura, daí portanto a aquarela; sai de um esquema sintético figurativo e, por vezes, vai se afastando dele, mas conservando os valores plásticos e a composição harmônica de forma que o espectador se sinta integrado na pintura, que seja ele o “verdadeiro protagonista” de uma obra lírica e que é um elogio da cor e do espaço fluido sempre em transformação.